Garnier (E), Bolsonaro e Paulo Sérgio, três dos condenados por golpismo.
Marcelo Camargo / Agência Brasil/Divulgação O Brasil assistiu, dias atrás, à prisão de um ex-presidente e colegas das Forças Armadas por tentativa de golpe de Estado.
Foi a primeira vez no país que tantos homens que integravam a cúpula militar foram para trás das grades — em outras épocas, ocorreram prisões de generais, mas não por golpismo.
O que mais surpreende observadores nacionais e internacionais é que tudo transcorreu sem distúrbios.
Não ocorreram grandes protestos nas ruas (como os de 1964), nem atos de violência política.
Mesmo no dia em Jair Bolsonaro foi encarcerado numa cela-alojamento da Polícia Federal (PF), não houve manifestação de multidões, como as que ele já foi capaz de mobilizar.
Os que imploravam pela mobilização dos quartéis também silenciaram.
O Brasil vive um momento de plenitude democrática, acreditam especialistas em Forças Armadas, política e estratégia ouvidos por Zero Hora.
O ponto de ruptura com a tradição de golpismo teria sido justamente o último rompante autoritário, o avanço de uma massa que, na tentativa de impedir a continuidade do governo do presidente eleito, depredou as sedes do Congresso, do Supremo Tribunal Federal (STF) e o Palácio do Planalto, em 8 de janeiro de 2023.
Imagem inserida automaticamente
O fantasma da violência política e de um Brasil que poderia rumar para uma guerra civil assombrou muita gente, mesmo entre os que apoiavam Bolsonaro.
Assustou conservadores, muitos militares e até ex-colaboradores do presidente que deixava o cargo.
O 8 de Janeiro foi uma virada de chave para muita gente que se assustou com o radicalismo.
Marcelo Camargo / Agência Brasil / Divulgação Fortalecidos, PF e STF agiram de forma lenta e gradual para punir os envolvidos sem maiores sobressaltos.
Optaram por divulgar todos os atos de processo, inclusive as provas e defesas dos acusados.
Os julgamentos também foram fatiados e espaçados, minimizando o impacto popular.
Tudo foi transmitido ao vivo, inclusive as reações dos julgados e seus apelos por clemência (alguns deram certo, como o do general Augusto Heleno Pereira, que cumprirá prisão domiciliar em decorrência da idade e de doença).
Tudo culminou com a condenação de Bolsonaro, três generais (Paulo Sérgio Nogueira, Augusto Heleno Pereira e Walter Braga Netto), o almirante Almir Garnier e dois delegados graduados da PF, a penas que chegam a 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado.
Imagem inserida automaticamente
Leia Mais PL anuncia a suspensão de salário e atividades partidárias de Bolsonaro Outras condenações de militares Não é a primeira vez que generais são presos no Brasil.
Em 1964, milhares de militares leais ao então presidente João Goulart foram encarcerados por outros militares que deram um golpe, sob a justificativa de impedir que o país mergulhasse no comunismo.
Entre os detidos na ocasião, estavam 53 oficiais de alto escalão (incluindo generais, almirantes e brigadeiros).
A diferença é que esses eram legalistas e não foram julgados por golpe.
Acabaram expurgados das Forças Armadas.
Imagem inserida automaticamente
O capitão da reserva Luís Carlos Prestes (ao centro, de paletó), logo após sua prisão em 1936.
Memorial da Democracia / Divulgação Em 1935 também houve uma leva de militares presos.
Eram de esquerda e se levantaram em armas para implantar um regime socialista no Brasil.
Liderados pelo capitão da reserva do Exército Luís Carlos Prestes, alguns deles foram responsabilizados inclusive pelo assassinato de colegas.
Foram capturados e condenados, entre outros crimes, por tentativa de golpe de Estado, mas não existiam generais nesse grupo.
A condenação de Bolsonaro e seus colaboradores generais, portanto, é a maior envolvendo uma tentativa golpista.
Eduardo Svartman, doutor e professor de Ciência Política e Estudos Estratégicos na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), está convicto de que o país mostrou maturidade institucional.
Ele ressalta que o Brasil tem uma longa história de rebeliões e intervenções de oficiais na p