O juiz Rodrigo Marques Silva Lima, da 6ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça da Paraíba (TJPB), havia determinado a internação de Gerson de Melo Machado, conhecido como Vaqueirinho, um mês antes de ele invadir a jaula de uma leoa na capital paraibana e ser morto pelo felino.
A decisão, obtida pela coluna, foi tomada no âmbito de um processo criminal aberto após Gerson Machado quebrar o portão do Centro Educacional de Adolescentes (CEA), em João Pessoa, no início deste ano.
Na ocasião, policiais militares precisaram usar spray de pimenta para conter o homem, que apresentava “alteração mental decorrente do uso de drogas”.
O juiz Rodrigo Lima relatou, baseado em laudo pericial, que Gerson Machado tinha esquizofrenia e que, por isso, “era inteiramente incapaz de compreender o caráter criminoso de seu ato”.
Nesse sentido, o magistrado absolveu impropriamente o réu e determinou a medida de segurança.
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1 de 5 Leoa que atacou o jovem em João Pessoa Material cedido ao Metrópoles 2 de 5 Veterinária mostra interação dócil com leoa que matou homem em zoológico Reprodução/melleite.
vet 3 de 5 Jovem morto por leoa tinha 16 passagens pela polícia Reprodução / Redes sociais 4 de 5 Gerson de Melo Machado, o Vaqueirinho, morto por uma leoa em João Pessoa, após invadir a jaula do animal Reprodução/PMPB 5 de 5 Conselheira tutelar Verônica Oliveira ao lado de Gerson de Melo Machado, conhecido como Vaqueirinho Arquivo pessoal/ Material cedido ao Metrópoles

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“A internação, em Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico (HCTP), é a medida mais adequada para resguardar a ordem pública e, principalmente, assegurar a Gerson de Melo Machado o tratamento médico-psiquiátrico intensivo e supervisionado de que necessita, em observância ao princípio da mínima intervenção penal e da dignidade da pessoa humana”, assinalou o juiz Rodrigo Lima.
O prazo de internação seria de, pelo menos, um ano.
A medida, contudo, não chegou a ser cumprida.
Em 24 de novembro deste ano – três semanas após a determinação de internação e uma semana antes de Gerson Machado ser morto pela leoa –, o homem voltou a ser preso.
Dessa vez, porque arremessou um paralelepípedo contra o para-brisa traseiro de uma viatura.
No dia seguinte, contudo, em audiência de custódia, a juíza Michelini de Oliveira Dantas Jatobá, da 1ª Vara Regional do Juízo de Garantias de João Pessoa, liberou o indivíduo.
O que aconteceu?
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Um rapaz, identificado como Gerson de Melo Machado, de 19 anos, morreu após invadir a jaula de uma leoa em João Pessoa, na Paraíba.
O jovem apresentava transtornos mentais.
Ele acumulava 16 passagens pela polícia, principalmente por dano e pequenos furtos.
Relatos de policiais que lidaram diretamente com Gerson mostram que ele repetia, de forma insistente, o sonho de ir à África e cuidar de leões.
Trajetória de abandono e pobreza
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A morte de Vaqueirinho, que invadiu a jaula de uma leoa em João Pessoa, expôs uma trajetória marcada por pobreza extrema, transtornos mentais não tratados e abandono familiar.
A conselheira tutelar Verônica Oliveira, que o acompanhou durante oito anos, diz estar “arrasada”.
Ao Metrópoles ela contou que Vaqueirinho, um jovem que cresceu sem apoio familiar e em condições severas, tinha o sonho de ir à África para “domar leões”.
“Foi uma criança que sofreu todo tipo de violação de direito.
Filho de uma mãe com esquizofrenia, com avós também comprometidos na saúde mental, vivia numa pobreza extrema”, relata.
A primeira vez que Verônica o viu, ele tinha apenas 10 anos.
Na ocasião, ele foi levado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) ao Conselho Tutelar, depois de ser encontrado andando sozinho em uma BR.
Desde então, passou a integrar a rede de proteção da infância.
A mãe perdeu o poder familiar há anos, segundo a conselheira tutelar, mas continuava sendo procurada pelo jovem.
“Ele, embora estivesse destituído, amava a mãe e sonhava que ela conseguisse cuidar dele.
Evadia do abrigo e ia direto para a casa da avó e da mãe”,